quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma inglesa no Porto - 12º Capítulo


Uma coisa era certa: ele nunca se tinha comportado daquela forma comigo. Nem uma única letra ou pontuação a mais! Era a verdade e eu não sou mentirosa. Nunca fui…
Será que ele tinha alguma coisa a esconder-me? Seria assim tão grave? Pela sua cara era…
Naquele momento pensei em tudo! Era o meu pequeno negro mistério. Queria-o descobrir, com todas as minhas forças. Mas, ao mesmo tempo, também não queria. “Só sei que nada sei”. Nunca concordei tanto com Sócrates. Enfim… Decidi ignorar o meu desejo ardente sobre o meu mistério.
No dia seguinte depois de acordar, tomei banho, vesti-me, comi, fiz a mala e fui chamar a Matilde para irmos juntas para a escola. Aproveitei e ouvi o relato da sua saída com o Isaac com entusiasmo. Ao que parece correu tudo como previsto. Ela estava mais radiante do que nunca. Tinham começado a namorar. Ela estava num autêntico mar de rosas.
Achei muitíssima graça às expressões dela e aproveitei e contei o meu encontro com o Sandro. É mais que óbvio e evidente que não contei a parte mais taciturna. Ela riu-se bastante alto e quando chegamos à escola estavam os dois à nossa espera. Cada uma de nós foi para seu lado namorar um bocado.
Depois de namorarmos um pouco ele dirigiu-me para um canto por onde ninguém passava e observou-me com um ar sério e atento durante algum tempo. Eu vi de imediato que algo de estranho se passava e tentei criar uma conversa sem resultado. Se ele me tinha arrastado para ali, teria sido por algum motivo! Ele só tinha de mo explicar…
Após de alguns minutos em silêncio ele abriu o jogo murmurando:
- Já não gosto de ti! Nunca gostei! Já te olhaste ao espelho? És uma autêntica carraça! Não passas disso! Nunca passaste! – E riu-se amargamente. Em seguida a isso continuou – Mas eu sempre ganhei as minhas apostas! Aquilo tudo que eu sempre te disse foi uma fantochada! – E voltou-se a rir às gargalhadas – Não me vais dizer que achas-te mesmo que eu queria ficar contigo? Ou vais?
- E… - hesitei por uns momentos – com quem fizeste a aposta? – Levantei o olhar que se encontrava fixo ao solo devido ao choque, demonstrando um olhar forte que não deixava transparecer a dor que sentia naquele momento – Quem foi a pessoa? Eu conheço? – Sorri corajosamente de modo a conseguir provocá-lo – Quero-lhe dar os parabéns!
- Não necessitas! – Visualizou-me com os olhos semi-cerrados – Já gozei com ele o suficiente. Não precisas de o fazer! Nem vale a pena te dizer qual o nome! Para quê? – Eu voltei a focar de novo o chão sem conseguir desta vez afastar a mágoa da minha expressão.
Não lhe dirigi mais nenhuma palavra e, ao ver isso ele abandonou-me triunfalmente. Fiquei sozinha naquele canto, agachei-me lentamente utilizando como auxiliar a parede, acabando sentada com os joelhos unidos e juntos ao peito envolvidos pelos braços. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e a minha face igualmente. Estava a chorar… Mas não por muito tempo! Prometi a mim, mesma.
Com tudo isto acabei por faltar às aulas, mas não me importei. Para quê? Ia ficar de castigo, mas não me importava. Aliás, estava-me pouco borrifando. Já não queria saber de nada.
Deambulei pelas ruas mais um pouco, pois tinha saído da escola com a desculpa de que me tinha esquecido das coisas de educação física em casa. Finalmente me cansei e, quando encontrei um banco em frente ao rio Douro, sentei-me. Fiquei a deslumbra-lo algum tempo, até que alguém me tocou no ombro esquerdo. Virei-me para trás e vi a Matilde.
- O que fazes aqui? – Perguntou-me – Faltas-te às aulas! O que aconteceu?
Mirei-a. Parecia preocupada.
- Às vezes, é bom baldarmo-nos! – Disse sem expressão, encolhendo os ombros e voltando a visualizar o rio.
- O Sandro estava esquisito e o Isaac também. Eu sei que se passou algo e que eles não me querem contar! E tu sabes o que é! Não me vais contar? Bolas! Estou preocupada! Sou tua amiga! Ou não? – Não lhe respondi e não consegui deixar de mostrar o quão, macambúzia eu me sentia. Ela sentou-se ao meu lado e voltou-se a dirigir a mim – Fala! – Pediu-me – Eu sou tua amiga! Eu estou aqui para te ajudar nos bons e nos maus momentos – e suplicou-me com o olhar. Eu suspirei ominosa, e finalmente lhe respondi:
- Ele acabou tudo comigo! – Levantei a cara, mordendo o lábio inferior, demonstrando a dor que sentia e observei a expressão de choque dela – Já não gosta de mim! – Murmurei e deixei cair uma lágrima que deu origem a algumas discretas, que rapidamente cessaram.
- Isso é impossível! – Regougou ela – Ele gosta de ti! Eu sei! Vê-se na cara dele! Ele não consegue fingir, ele... – e soltou um grito de raiva – Não acredito que ele te esteja a fazer sofrer assim! Ele gosta de ti! Tenho a certeza! – Senti o meu coração a amachucar-se com muita força e olhei para o vazio sem expressão. Quando voltei a olhar para ela, esta já não se encontrava presente. Não sei a razão pela qual ela se foi embora. Talvez para falar com ele, talvez não. Eu não precisava de ajudas, nem que ele estivesse comigo por pena.
Quando me levantei para ir para casa, os meus pais telefonaram-me chateados à minha procura, pois a minha directora de turma já tinha ligado
para casa para dar conhecimento sobre as minhas faltas. Como é óbvio, fiquei de castigo.

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