segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Uma inglesa no Porto - 11º Capítulo


- Entremos! Não vamos ficar aqui ao calor! – Disse-me ele com um toque de alegria, ao abrir-me a porta.
Então, observei a sua face efusiva por uma última vez, e entrei. O ambiente estava bastante acolhedor. As paredes tinham sido pintadas com tinta amarela recente­mente e, o balcão apresentava-se completamente mudado – quer dizer, estava mais bonito, mais moderno. As mesas eram de vidro e com as pernas em madeira e, as cadei­ras apresentavam-se bastante altas e confortáveis. Nas paredes, estavam quadros a preto e branco com a produção de café representada e atrás do balcão estava uma senhora bastante apresentável.
- Kate, esta é a minha tia Sofia. Tia Sofia, esta é a Kate. – Apresentou-nos. Eu tentei sorrir de forma conveniente, para aparentar ser simpática - É a minha namorada – continuou, vendo que eu, agora, o observava bastante espantada e sem saber o que fazer. Mais um pouco, e entrava em estado de choque. Não sabia como agir… se lhe havia de bater ou de me agarrar a ele de forma conveniente para mostrar que não me importava por ele ter revelado essa pequena mentira, a qual eu não me importava que fosse reali­dade. Fiquei imóvel e sem palavras. Ao ouvir o seu sobrinho dizer uma coisa que lhe agradava, esta, retirou o avental branco que possuía posando-o no balcão e agarrou-se a mim. Felicitou-o e observou-me fixamente com os seus olhos azul oceano. Elogiou a minha beleza e, ofereceu-nos os nossos tão desejados gelados. Convidou-me ainda para jantar mas, eu recusei. Já era um abuso, visto que eu não namorava de maneira nenhuma com ele. Após, nos termos despedido da agradável senhora, voltamos para o calor ardente que se encontrava na rua e voltamos a caminho da minha casa. Tentei-lhe pedir explicações, mas ele ignorou-me e começou a contar a história do café da tia.
- Sabes… a minha tia comprou o café há pouco tempo. Antigamente era uma taberna. Pertencia ao Heliodoro. Mas, um dia, veio cá a ASAE e a taberna foi encerrada por falta de condições! – Sorriu. Eu fiquei com um ar melancólico ao pensar que quase tinha almoçado naquele lugar. Ele ignorou a minha expressão e continuou – É obvio que agora, a minha tia já a restaurou e tornou a taberna dele num café com o máximo de condições possíveis. Podemos lá almoçar, depois da escola um dia destes… Eu queria dizer… Se tu quiseres, obviamente! Não é verdade? – Sorriu timidamente. Eu dissimu­lei que não o tinha ouvido e voltei a perguntar-lhe o que me assomava a mente:
- Porque é que mentiste à tua tia? – Juntei as sobrancelhas, incomodada. Ele parou de andar, levantou a sua face para o sol, e ficou a meditar por uns segundos, dando-me a sensação de que ficara constrangido. Vendo que ele não me ripostava, eu atirei-lhe outro chorrilho de perguntas – Porque é que o fizeste? Havia alguma necessidade? Eu simplesmente não compreendo! Responde! Tem de existir um motivo para eu ter mentido! Eu não gosto de mentir! Sandro!? – Exigi-lhe a sua atenção.
Ele continuou sem retorquir. Passou-se algum tempo e nós continuávamos no meio da rua parados.
- Responde… - Murmurei outra vez – Olha para mim… - Supliquei-lhe com a voz mais doce que consegui produzir. Ele fixou os seus olhos melífluos em mim e finalmente tartamudeou:
- Eu acho que não menti… Eu acho que exprimi um desejo, que nasceu na primeira vez que te vi…
E, sem o meu consentimento… agarrei-me a ele e beijei-o. Foi o beijo mais intenso que dei na minha curta vida. Também posso afirmar que foi o mais doce e o mais maravilhoso… Consigo ainda acrescentar - sem vergonha – que foi o único beijo que dei com sentimento. Ele era, sem dúvida, especial. O meu sangue fervia-me nas veias, o meu coração batia mais depressa do que bateria se eu corresse a maratona. Ele não sabia o tempo a que eu tinha resistido a fazer este simples gesto – beijá-lo. De certo modo, eu estava também a realizar um desejo meu. De alguma maneira, eu tinha noção que me começava a faltar o ar. Mas, não queria dar parte fraca… portanto, aguentei-me o máximo de tempo que pude, visto que queria que aquele momento dura-se para sempre.
Estivemos durante muito tempo assim… apesar de a mim só me ter parecido alguns segundos. Quando acabou, a minha respiração estava irregular e, o meu coração continuava acelerado. Olhei-o nos olhos e ele sorriu-me…
- Com que então… - iniciou. Mas não chegou a acabar, pois eu dei-lhe a mão e ele agarrou-a e abraçou-me tal e qual como no dia do cinema. E cambaleámos os dois extremamente felizes até a minha casa.
Abri a porta e entramos os dois aos beijos dentro de minha casa. Encostámo-nos à parede do hall de entrada e continuamo-nos a beijar apaixonadamente… Porém, quando fizemos uma pausa, senti-me observada e virei-me lentamente. Perante nós, estavam os meus pais com um ar reprovador e ao mesmo tempo preocupado comigo.
- Olá Isaac! – Sussurrou o meu pai, carregadamente e lentamente.
Não nos podemos evitar de soltar uns risinhos… O meu pai fulminou-nos com o olhar e o Sandro estendeu-lhe a mão diplomaticamente:
- Sandro. Prazer em conhece-lo. – E mostrou o seu sorriso enervado, do qual tanto gostava…
- Nuns dias Isaac, noutros Sandro! A ala psiquiátrica do hospital não fica assim tão longe! – Murmurou com o intuito de o ofender.
- Ah! Está a referir-se ao meu irmão? – Deduziu o Sandro.
- Teu irmão?! – O meu pai estava extremamente envergonhado. Passou com a mão pela nuca e pediu-lhe as suas mais sinceras desculpas, tartamudeando.
- Oh! Não há problema! O problema de ter um gémeo é precisamente esse! Estão-nos sempre a confundir. Eu já nem ligo! Já houveram antigas namoradas do meu irmão que me viram com outras raparigas e afirmaram que eu as tinha traído! – Baixou a cabeça embaraçado, sorrindo com os dentes muito brancos.
- Bem… Se não houver problema… - continuei em mais tom de pergunta do que aquilo que eu pretendia.
- Não, não… Então vão lá buscar os patins!
- Obrigada pai! – Agradeci, dando-lhe um beijo suave na bochecha e puxando o Sandro pela mão a caminho da despensa.
- A nossa menina já está tão crescida! – Bichanou o meu pai à minha mãe. A minha mãe nunca foi uma mulher de muita conversa, sendo, portanto, o meu pai que dirigia as conversas de família. E a minha mãe não ripostou e observou-me atentamente enquanto nós retirávamos os patins a muito custo da confusão da despensa.
Ambos sorriamos e eu fiquei com a sensação de que estava apenas a ter um sonho bom. O meu coração estava quente, demasiado quente… mesmo a queimar. E então pensei comigo mesma “Será que é assim o amor?” e sorri ainda mais. Ele observou-me docemente, com o sorriso ainda mais meigo e comentou:
- Bolas, Kate… A tua despensa está mesmo desarrumada! – Eu dei um riso e ele mirou-me incrédulo – Eu digo que a despensa está desorganizada e tu ris-te? Tenho que dizer isso mais vezes!
- Mesmo tonto! – Disse-lhe dando-lhe uma cotovelada fraca no seu peito duro.
Com o tempo lá os retiramos e fomos para a sala com eles na mão. O Sandro decidiu calça-los logo em casa. Eu, sinceramente, achei uma idiotice, visto o facto de nos encontrarmos num prédio e de termos escadas para descer. Ele podia magoar-se a sério. Tentei convence-lo a não os calçar em casa mas não o demovi! Enfim, calçou-os vendo-me com um olhar contrariado. Pôs-se de pé facilmente (uma coisa que eu não conseguia fazer sempre que estava de patins) e começou a deslizar pela sala. Finalmente, descemos as escadas (quero dizer, eu desci! Ele atirou-se das escadas com aquele instrumento o que me atormentou). “Tem cuidado!” vociferei. Mas ele ignorou-me jogando-se na mesma.
Quando chegamos à rua foi um alívio para mim… Já estaria seguro (em parte, pois, na rua nunca se está verdadeiramente seguro)! Procurámos uma estrada com pouco movimento para andar, calcei os patins e comecei a patinar com ele.
Não tenho maneira de expressar como ele patinava! O Sandro não patinava! Deslizava, suavemente como um anjo caído do céu, elegantemente e fazia-lo com uma facilidade monstruosa. Eu, por minha vez, não patinava igualmente. Limitava-me a tentar manter-me em pé, sem cair com o rabo no chão. Tinha que admitir que era embaraçoso! Ele tinha jeito para todos os desportos. E eu, nem para um! Nem sequer vale a pena dizer que caí várias vezes no meio da estrada e que depois nem sequer me conseguia levantar. Foi ele que me puxou várias vezes e numa delas como não tive força no rabo limitei-me a deslizar de cócoras e acabei por me descontrolar e passar por debaixo das pernas dele como num elegante movimento de twist em vez de uma tentativa falhada de me tentar levantar…
Estivemos diversas horas naquelas figuras que mais faziam lembrar uma comédia. Não posso negar que foi divertido…
- Gostava de um dia visitar a tua casa… - Observei enquanto arrumávamos os patins.
- Pois… - foi a única coisa que conseguiu dizer baixando o olhar.
- Estás bem? – Perguntei – Quero dizer, não pareces nada bem! Essa resposta foi esquisita! Bem… Não estou habituada!
- É bom que te habitues! – Sussurrou - Se queres que tudo corra bem não vás a minha casa! – Avisou – Não quero que te magoes – declarou, pegando na sua mochila que se encontrava pousada no meu sofá da sala. Feito isto dirigiu-se para a porta de entrada e abriu-a só com uma mão visto que, a outra estava ocupada com as coisas da escola. Eu observei-o perplexa. Antes de abalar ofereceu-me um beijo doce na boca, como de costume, e desapareceu. Ele nunca tinha falado comigo daquela maneira. Havia algo errado! Tinha de haver! Ou seria eu que estava a imaginar coisas?!

1 comentário:

  1. opá! tem sempre de acabar na parte mais interessante! :C
    quero mais :'(!

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