quinta-feira, 25 de junho de 2009

Uma inglesa no Porto - 7º Capítulo

A escola estava o mais estranho que o habitual… Hoje, todos na escola, já sabiam que tinha beijado o Sandro. Ao que parece as fofoqueiras da escola tinham decidido fazer compras e ouviram a barulheira de quando íamos jantar e até já tinham contado à minha turma… Umas raparigas que tinham a mania que algum dia, iam conseguir namorar com ele, olhavam-me com respeito, outras olhavam-me com raiva de conseguir, o que nenhuma conseguira fazer até lá e outras tentavam arranjar desordens por ter beijado, o seu príncipe encantado.
O Isaac, não sei se foi felizmente ou infelizmente, estava comigo a assistir àquilo tudo. Ele viu que cada vez, estava a ficar mais triste com cada comentário maldoso que me passava pelos ouvidos. Até chegarmos a um grupo de rapazes maldosos que comentaram “Se calhar ela nem beijou o Sandro, beijou o Isaac e a cena desenvolveu! Porque se não porque razão, vinham juntos se vivem em casas diferentes?”, passávamos por raparigas que achavam que somos todos como elas “Que vergonha! Beija um num dia e no seguinte anda com o irmão… ”.
- Isaac, vai-te embora – pedi.
- Porquê? – Perguntou-me.
- Tu não tens nada a ver com isto e estão-te a envolver no problema! – Respondi-lhe.
- É impressão tua! – Respondeu-me. Era bom, era…
A certa altura passou um rapaz que não conhecia de lado nenhum e que se meteu connosco:
- Então, a noite foi boa?
E o Isaac, pegou-o pelos colarinhos e disse-lhe:
- Tu nunca, mas nunca mais me fales assim! Estás a ouvir?
- Mas, toda a gente, diz que dormiste com a miúda! – Retribuiu o outro – E há que dizer que ela é uma bomba! – Continuou, olhando fixamente para mim.
-Ouve, Manuel, nem tudo, o que dizem por aí é verdade! - Respingou o Isaac.
- Mesmo parvo! Com uma miúda que tens aí nem a aproveitas! – Prosseguiu o rapaz… rapaz! Provavelmente mais velho que eu. E um nojento do piorio – Se fosse eu… - e cuspiu para o chão - dava-lhe…
- DAVAS-ME O QUÊ? – Disse eu, mesma, agora agarrando-lhe pelos colarinhos. Pronta, a dar-lhe uma tareia.
- Hum! Queres mesmo saber, amor? – Atreveu-se.
Quando eu lhe ia dar uma estalada, alguém me pegou na mão e disse:
- Não vale a pena… - Era a minha professora de Física e Química – eu assisti a tudo… Vou levá-lo para o Conselho Executivo, para dizer à directora, tudo o que disse aos teus colegas. E que este exemplo se aplique a todos… não se fazem estas acusações sem provas. Eu sou vizinha da Kate e sei que nada aconteceu… Voltem todos ao que costumam fazer se não querem acabar em Conselho Disciplinar, como ele irá!
Dito isto, arrastou-o pelo bloco que se encontrava o Conselho Executivo adentro. Eu respirei de alívio por não me ter metido em alguma confusão. E acho que o Isaac também.
Parecendo que não violência, só gera violência, apesar de que, às vezes, este tipo devesse levar uns tabefes… É essa a verdade! É isso que penso! A boa educação fica bem a toda a gente… Nada de dizer asneiras, nem andar à luta, nem provocar os outros meninos! Seria esta a esfrega que lhe daria se fosse a directora. Mas, como não iria dar resultado iria pô-lo a fazer serviço comunitário na escola, ou seja, limpar o pátio, nos intervalos e depois das aulas, tenho que admitir que ir servir para a cantina também seria uma boa ideia. Visto que, deixando-o em casa, mandrião, como me disseram que era, quando voltasse à escola, faria ainda pior para voltar para casa de suspensão… Mas, não! As pessoas não vêem desse ponto de vista! Por isso, a suspensão, foi-lhe o castigo aplicado.
Sinceramente, eu não me importei com o que fariam ou deixariam de fazer com ele. Afinal era bom para mim e para todos os outros colegas que não gostavam dele, pois o mesmo, tinha a mania de implicar com tudo e todos.
Quando o outro e a professora acabaram de entrar no bloco, lá apareceu a Matilde, acompanhada pelo Sandro no meio da confusão:
- Que aconteceu? O que se passou aqui? – Proferiu confusa.
- Foi um rapaz que começou a provocar-nos… - Respondi.
- Provocar-vos de que maneira? – Perguntou o Sandro.
- Ao que parece as fofoqueiras da escola, foram ontem ao fórum e ouviram a vossa discussão… Espalharam a notícia por aí e agora, as pessoas estão todas ocupadas a fazerem histórias repugnantes sobre as nossas vidas! – Replicou o Isaac.
Quer a Matilde, quer o Sandro olharam para nós, com receio do que as pessoas andariam a dizer sobre todos nós…
- Temos que continuar unidos e não deixar que as coisas que ouvimos por aí, não afectem a nossa amizade… Não dêem ouvidos às pessoas de fora do grupo. A amizade é uma relação feita de confiança e amor… Confiem em nós… Por favor… - continuou o Isaac. Ao que parece resultou, pois a Matilde abraçou-se a ele e o Sandro fez um sorriso discreto, acrescentando “Nós confiamos em vocês! Vejam é o que fazem por aí!” e olhou-me nos olhos, em seguida, como se quisesse dizer “Necessito de falar contigo”. Eu, por puro instinto, puxei-o para um canto e fiquei a falar com ele. O mesmo pediu-me desculpa pela cena de ciúmes que tinha feito no dia passado. É óbvio e é de aditar que ele não usou a palavra “ciúmes”! Disse-me apenas que não sabia o que se tinha passado pela sua cabeça para fazer um escândalo daqueles, que nunca lhe tinha acontecido e por fim, ofereceu-me as suas mais sinceras desculpas.
Para falar a sério, não prestei atenção nenhuma ao que ele me dissera, nem sei como pude reter a sua mensagem. A minha grande prioridade naquele momento, era ver como reagiria Matilde, ao convite de Isaac. Por amor de Deus! Nunca vi ninguém demorar tanto tempo, para convidar uma rapariga para sair… e dar uma flor! É uma flor estica a mão, Isaac! É fácil! Basta estender o braço com a flor na mão e entregar-lhe… pensei nisso, enquanto, ele gaguejava, com o malmequer amarelo atrás das costas, com o caule enrolado em prata, para este se manter húmido. O desgraçado do Sandro esforçava-se por encontrar uma solução, para explicar aquilo que o levara a fazer aquilo e eu a ignorá-lo completamente. A certa altura, acho que ele chegou a pensar que eu ainda passava dificuldades na aprendizagem da língua, coisa que nunca tive, pois desde bebé que os meus pais me ensinaram português. Mas, adiante… uns minutos depois do palrear todo do Isaac, lá ele lhe estendeu o braço, para lhe oferecer a flor, convidou-a e ela sorriu… missão cumprida… Sorri finalmente para o Sandro, enquanto ele passou com a mão a coçar as costas, atrapalhadamente e replicou “Percebeste? Perdoas?” e eu sorri, novamente e dei-lhe um beijo na bochecha, como sinal de estar a anuir.
- Então, agora que fizemos as pazes, queres sair comigo? – Perguntou-me.
O meu sorriso esvaneceu-se.
- Não – Respondi – Estou de castigo! Cheguei demasiado tarde a casa e estou de castigo, durante três semanas. – Voltei a exibir o meu maior sorriso – Mas, se esperares posso encontrar-me contigo daquilo a três semanas, menos um dia!
- Não há problema! – Respondeu e tocou…

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