segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma inglesa no Porto - 6º Capítulo

- Como foi isto acontecer? – Perguntou-me. E eu limitei-me a observá-lo. – Como é que ela? Ela pediu-te alguma coisa? – e eu neguei.
- Mas, deu-me a entender…
O Isaac agarrou nas minhas mãos e juntou-as às dele e disse:
- Se me ajudares a conquistá-la, tu também irás sair beneficiada! – Prometeu-me. E eu, acreditei…
Ficamos por muito tempo a dialogar, sentados nas escadas que davam para o prédio. Discutimos várias formas para que ela reparasse nele, mas, a cada uma que eu imaginava, ele dizia que já tinha feito e, que não tinha surtido qualquer tipo de efeito. Despedi-me dele com dois beijos nas bochechas, pois já estava ficando tarde e já estava a começar a ficar com fome e entrei dentro do prédio. Enquanto estive no interior do prédio, sozinha, pensei em milhões de formas de conseguir com que a Matilde e o Isaac se encontrassem e que ela reparasse nele. Mas, era demasiado difícil. Qual, seria a forma?
Ao chegar ao 2ºesq saquei das chaves do meu apartamento e encaixei-as na fechadura. A porta, como previsto, escancarou-se e eu entrei. Na sala, esperavam-me os meus pais, completamente exasperados, o Sr. Artur esperava em pé, de braços cruzados, junto ao sofá da sala, onde se encontrava a Sra. Ilda, sentada de perna cruzada a olhar em direcção do seu relógio de pulso.
- Meia-noite. Sabes o que é que isso significa, não é? - Questionou-me a minha mãe.
- Sim, sei… - Prossegui. Olhei quer para um lado que para o outro e vi ambos com uma cara muito séria. Eu sabia o que se seguia se eu chegasse três horas atrasada (como desta vez) … Cada hora correspondia a uma semana que iria ser casa – escola – escola – casa. Desta vez, admito que exagerei um bocadinho, que os meus pais tinham razão. Então, beijei-os suavemente e dei-lhes as boas noites. Seguindo, imediatamente, para a minha cama. Quer dizer: imediatamente, não… porque fui lavar os dentes, primeiro. Acho que os meus pais estranharam eu nem sequer respingar. Estavam habituados a um “Porquê?”, “Bolas! Caramba!” ou um até “Podia ter chegado mais atrasada!” Mas, desta vez não! Já não era nenhuma menina pequenina, que não soubesse que aquilo que os mestres mandam, é para cumprir… Durante, a minha lavagem aos dentes apressada, os meus pais entreolharam-se e a minha mãe levantou a voz para se ouvir aquilo que estava a dizer:
- Sabes, Artur… Acho que o Porto anda a fazer mal à Kate! Ela está diferente! Agora nem quer saber se as três semanas lhe apanham o aniversário… - eu detive-me, por uns instantes. Pois era! O meu aniversário! O quatro de Outubro estava já todo planeado! E agora estava completamente arruinado… Que cataclismo! Que tragédia! Para mim, era pior que o terramoto de 1755, o Big One, o Tsunami da Indonésia… Bem, se talvez não desse a importância a tal facto provavelmente eles se esquecessem. Sim, era essa a minha arma a partir de agora! Se não mostrasse interesse no assunto, talvez me retirassem tal castigo e me colocassem um com menos importância na minha vida social.
Depois, de os escovar convenientemente, vesti o meu pijama, acertei no meu despertador, as horas a que me necessitava levantar e fui para a cama.
Nessa noite, sonhei com coisas muito estranhas. Nos meus sonhos mais profundos, aparecia o Matt e o Sandro, os dois dizerem-me “Escolhe-me a mim! Escolhe-me a mim!” e eu completamente indecisa… Umas vezes, escolhia um, outras vezes, escolhia outro. E no final, deixavam-me os dois, sozinha, completamente abandonada, no meio da rua, a chorar. Depois, apareciam os meus pais a dizerem “O Porto anda a fazer mal à Kate! ” “Agora nem quer saber se as três semanas lhe apanham o aniversário…”! No final de tudo, vinha a Matilde “Pensava que eras minha amiga! Beijaste-o! Beijaste-o!”…
- NÃO! – Berrei a meio da noite, ao acordar do pesadelo – Eu não fiz por mal! Eu não fiz por mal!
E suspirei. Contemplei o meu relógio amarelo que marcava 4.23h da manhã! Ainda era cedo! Levantei-me e fui beber um copo de água. Enquanto a engolia, pensava na maneira mais indicada de ajudar o Isaac. Antes de tudo, recapitulei a história que ele me tinha contado e comecei a tirar notas mentais para mim, mesma. Vejamos! Eles conheceram-se na escola primária e o Isaac apaixonou-se por ela, quando ela lhe emprestou um lápis amarelo para colorir o sol! Que amorosos! E em seguida, ele ofereceu-lhe umas flores amarelas da cor do lápis, para lhe agradecer… É ISSO! BINGO! E fui a correr, para o meu telemóvel para telefonar ao Isaac que me tinha deixado o seu nº, quando dialogáramos a sós. Fui à lista telefónica do meu telemóvel e escrevi, então, I, e lá vieram os nomes todos anteriores dele atrás… Idalina, Ideário, Idílio, Ilda, Isa, Isaac! Lá, premi o telemóvel verde, desenhado no meu telemóvel para evocar o número pretendido. Agora, estava a chamar e mal podia esperar que o Isaac atendesse…
- Estou? – Disse-me uma voz ensonada através do pequeno aparelho.
- Isaac? És tu? – Interroguei.
- Kate?! Meu Deus! Vai para a cama! Já viste as horas? Isto é de loucos! Falamos amanhã! Por amor de Deus, agora não consigo dormi… - disse-me desligando-me o telemóvel.
Bem, ao menos, sei que me deu o número certo! E emiti um sorriso maroto! Coitado! Realmente, ser acordado a meio da noite por outra pessoa não deve ser nada agradável. Tenho que admitir que a minha ideia foi mirabolante de contar o meu plano àquelas horas da madrugada!
Peguei numas bolachas Maria e fui para a cama. Liguei a televisão, que se encontrava no meu quarto, para ver se estava a dar algo de jeito. Hum, não estava! Só estava dando aqueles filmes não decentes em dois canais! Num filmes de terror… e finalmente, lá consegui virar para um canal que estava a dar uma comédia para toda a família… Aquelas horas não devia ser normal! Mirei o relógio de mesa outra vez: cinco em ponto! Tinha que me deitar se não amanha, não me queria levantar… Pus o temporizador, cerrei os olhos e acabei por adormecer…
Na manhã seguinte, lá ouvi o despertador tocar, dei um pulo da cama e fui tomar o meu banho diário. Liguei as minhas colunas à corrente eléctrica que estavam adaptadas para o meu mp3, deslizei do off para o on aos dois e pus-me no banho, a cantar mal como uma doidinha… Sinceramente, também não me esforcei para soar bem, estava-me a divertir no banho e isso é que é preciso! Peguei num gel de duche e abanei o cabelo como uma cantora de rock, aos berros… Os meus pais que me ouvem constantemente a cantar dizem que parece que estou a esfolar um gato! Mas não me importo! O meu pai e eu às vezes, ouvimos as pessoas a cantar bem na televisão e dizemos, rindo e gozando um para o outro: “Este tipo canta bem?! C’um caneco! Nós íamos lá e dávamos um grande show e ganhávamos aquilo tudo!” A minha mãe geralmente, ri-se! Faz bem! Mas, há-de ver! Nós ainda vamos ser grandes cantores! Obviamente, que estou a ironizar! Não é verdade?
Saí do banho, enrolada na minha toalha amarela e com os meus coelhos nos pés, passei pela cozinha de propósito, para aproveitar para tirar uma tosta barrada com manteiga, para merendar enquanto me vestia… Devorei a tosta, antes de chegar ao quarto, ao mesmo tempo que a minha mãe me informou gritando:
- Tens uma surpresa no teu quarto!
- Está bem! – Berrei com a boca cheia de tosta ainda não digerida completamente e os dedos repletos de manteiga.
Mal, cheguei ao quarto estava lá, o Isaac, sentado na minha cama.
- Ah! Vais-te vestir, desculpa! Depois, falamos… - disse-me.
- Vais para a sala, certo? – Questionei-lhe – É que preciso mesmo de falar contigo!
- Aaaa … sim! Não há problema! Já vou a caminho… - fechou a porta e deixou-me sozinha com o meu guarda-roupa…
- Hum… Vejamos o que vou vestir hoje… - peguei num colete e nuns calções em ganga que fazem parte de um conjunto e na minha camisa negra… - (Tengo… Tengo una camisa negra…) AHAHAH! Sim! Parece-me estar bom para o meu dia de hoje! - E vesti tudo…
Depois de estar vestida, fui à despensa buscar os meus sapatos de saltos altos pretos e calcei-os… Após estar despachada, peguei num pedaço de pão com chocolate, (a minha dieta já estava arruinada de ontem, que mal haveria se a arruinasse ainda mais com chocolate)?
Passei pela sala e perguntei ao Isaac se queria tomar o pequeno-almoço, connosco. Ele depressa, recusou e fui-me sentar com ele na sala e ele comentou:
- Quem me dera que a Matilde se vestisse assim! – Observou, olhando fixamente para as minhas pernas e para as minhas ”amiguinhas”.
- Bom! – Proferi eu arranjando uma manta para me tapar para ele não abusar demasiado. Após tal acto meu, sentei-me, novamente, agora tapada e continuei a conversa… - A Matilde… Acho que sei o que te pode ajudar…
- Óptimo! Conta! – Incentivou-me.
- Podias-lhe dar uma flor amarela para relembrarem quando se conheceram e em seguida, convida-la para saírem SÓ os dois… que achas?
O mesmo ficou pensativo e disse-me:
- Isso é coisa de miúdos!
- Coisa de miúdos, dizes tu! Fica sabendo que é por as crianças serem tão doces que as raparigas gostam tanto delas… E a Matilde é desse tipo de pessoas! Quem não arrisca não petisca, nunca ouviste dizer?
- Pois… ditado popular… mais vale arriscar agora e saber o que acontece do ficar, a ver e acabar a vida a chorar! Tens razão! Vou arriscar… - e eu emanei um sorriso.
Fui ao meu quarto, peguei na mochila, que tinha preparado antes do duche e partimos os dois para a escola.

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