quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma inglesa no Porto - 5º Capítulo

Agora nas escadas para o cinema, dei por mim a pensar no pentágono que recentemente se tornado a minha vida. O Matt com outra, a Matilde a pensar no Sandro e eu a magoá-la. Cinco pessoas cada uma com os seus pontos de vista. E o mais estranho é que quando estava com o Sandro no cinema, o Matt pareceu-me uma recordação do passado, boa, mas, apenas uma memória! ”Olá sou o Sandro. És muito gira, sabes?”- essas palavras ressoaram-me na cabeça, tão fortemente que pareciam enxaquecas. E o mais estranho é que me as dores de cabeça com os bichinhos que sentia na barriga me davam o concerto mais horrível e mais maravilhoso que alguma vez tinha assistido na vida.
Que seria isto? Seria alguma pipoca que me tinha caído mal? Pus a mão sobre o coração. Estava o mais abrandado que já tinha sentido. Parecia em câmara lenta! Ahahah! Fotocópia do Matrix! Fiquei muito tempo ali sentada com cara de parva, até passar um homenzinho já com os seus setenta anos com o cabelo completamente branco, o seu olhos castanhos e um pulôver praticamente igual ao meu, só que com cores diferentes, umas calças de lona cremes e uns sapatos de vela castanhos. O idoso disse-me com um sorriso caloroso:
- Eu sei o que é isso! – E eu despertei dos meus pensamentos mais profundos de repente. O que é que aquele senhor estava a dizer? Ele sabia? Óptimo! Nem eu sabia o que era e aquele já tinha descodificado tudo. Sempre ouvi que a idade arrecadava sabedoria! E estava pronta para ouvir a teoria dele. – Isso é amor! Basta olhar para a tua cara para saber que gostas dele e se pusesse a mão no teu coração saberia que ele está alterado! As pessoas apaixonadas são mais alegres do que as outras. Sempre que falamos com elas, a sua face ilumina-se! Gosto de ver as pessoas apaixonadas! Mas, agora estou velho e ninguém me liga nenhuma! As pessoas passam por mim e fazem tudo para se afastarem de mim. Tudo ao contrário, de quando eu era jovem! Quando era moço, chegava a ser disputado por duas ou até mesmo três raparigas ao mesmo tempo - soltou um riso meio rouco e voltou à conversa, ficando agora mais triste que nunca - Agora estou velho! Ninguém me quer ouvir! Ninguém quer conversar comigo. Passo os dias fechado aqui neste centro comercial, que é a minha única alegria. Mas, o meu filho e a minha nora estão fartos de me ter alojado em casa deles e amanhã entro num lar de terceira idade. Terceira idade! Estou velho mas não o suficiente para não conseguir arranjar-me sozinho! Este homem que vês diante ti ainda tem força para dar e vender! E vai para um lar! Que tristeza!
E dito isto apoiou-se na bengala e arrastou-se até ao balcão para falar com as raparigas que vendiam os bilhetes.
Depois, desta conversa, eu voltei à sala mais calma! E voltei a sentar-me no meu lugar. Ele voltou a pôr-me o braço por cima. Que abuso! Tinha que dizer-lhe que não queria! Que não me sentia à vontade. Que tinha acabado com o meu namorado havia pouco tempo e isto tudo era bastante recente! Que não me sentia vontade com outro rapaz. Então disse-lhe… Ele ficou muito apreensivo e prometeu-me, não voltar a fazer daquelas.
- Então, há quanto tempo acabaram? Qual foi a duração do namoro? Como se chamava? – Disse-me, evitando os meus olhos, olhando directamente para o ecrã gigante.
- Matt. Andamos durante uma semana e acabamos há três meses! – Retorqui-lhe.
- UMA SEMANA?! POR AMOR DE DEUS! – Bradou. O que fez com que o público deixasse de tomar atenção ao filme e se centrasse todo em nós os dois.
- Sim, sim! Já li um artigo sobre este filme que diz isso, impressionante, não?! Os espíritos só matam os miúdos uma semana depois de o perseguirem! Parece que o realizador anda a gozar connosco não? – E as pessoas voltaram a tomar atenção no filme.
- O REALIZADOR NÃO! MAS, TU ANDAS, A GOZAR COMIGO! – Disse-me apontando com o dedo indicador no meu peito. E as pessoas reviraram-se para nós outra vez.
- Olha! Acabaram-se as pipocas vou comprar outra vez! – Dei como desculpa e sorri desajeitadamente.
Bolas! Ainda é pior que eu, a criar desordens públicas! Esse tipo é insuportável! É giro, até tudo aí muito bem. MAS EU NÃO ESTOU PARA ATURAR ESTAS CENAS! – Pensei, enquanto saia da sala novamente com umas “trombas” incríveis. O mais impressionante é que eu não sou um elefante, como diz a minha tia Iva! Sempre que penso nesta frase mesmo que esteja muito chateada, exibo um sorriso.
E lá estava eu outra vez, no meio do fórum a fazer tempo para ele acalmar para não ter que entrar em desordens públicas!
Voltei para a sala novamente e o Isaac puxou-me para o pé dele e da Matilde.
- O que é que se passou há bocado com o meu irmão?
- Bem, digamos que não quis acreditar naquela cena que lhe disse… - ripostei-lhes.
- Tens a certeza?! – E fez-me uma cara de “não te metas comigo”, que me fez ficar com receio – O meu irmão não costuma ter este tipo de reacções com qualquer “CENA”! – Vociferou.
- Eu… bem… hum… vou lá continuar a ver o filme! – Informei, apontando lá para a minha cadeira vazia.
- Quando fores para casa quero falar a sós contigo! E não aceito um “É tarde, tenho sono” como desculpa! – Advertiu-me o Isaac. Não parecia estar para brincadeiras. Os seus olhos denunciavam-no. Parecia-se demasiado comigo, no momento em que sai do Conselho Executivo, para dar ao luxo de chegar ao final da noite e esquecer-se da conversa tão importante que desejava ter comigo. A Matilde igualmente me lançou o mesmo olhar, e disse-me:
- Eu também desejo falar contigo! E igualmente a sós! – E penetrou o seu olhar no meu, mafiosamente. A tarde que ao inicio começou por ser divertida tornou-se numa autêntico pesadelo. Só queria ir para casa. Nem sei como é que ia conseguir manter um sorriso aparente enquanto comia uma pizza. Além de não gostar de bifes também não gosto de hambúrgueres. Devido tal facto, iria abandona-los durante um curto espaço de tempo e regressava com a minha pizza de fiambre e cogumelos (a minha preferida).
Quando cheguei ao meu lugar o filme acabou. Parece que já o tinha treinado milhões de vezes. O Sandro elevou-se e foi a caminho da saída. Parecia estar a evitar-me. Não sei, porque. Mas sentia-o…
Fui a última a desocupar a sala. Não estava com nenhum espírito festivo, nem sequer com fome. Todos ali estavam melancólicos, incluído eu, mesma. Dirigíamo-nos os quatros até a zona da restauração e bebidas…
- Sabem… - disse-lhes – estou tão cheia de pipocas e de Coca-Cola que nem me apetece alimentar!
- Coca-Cola! Nem sequer bebeste! DEVIAS TER NOJO DE MIM, NÃO É? – Reacendeu a discussão outra vez. Ao que parece, ele estava mesmo chateado.
- Não! – Retorqui-lhe.
- POIS! QUANDO ESTIVEMOS AGARRADOS PELA PRIMEIRA VEZ, JÁ NÃO HOUVE MATT NENHUM! – Clamou. E dito isto, o Isaac e a Matilde olharam para mim, como se me quisessem matar – PARA NÃO FALAR DO BEIJO QUE ME DESTE!
Eu senti-me como um pequeno insecto acabado de ser pisado por um humano. Cada vez que ele falava, mais me sepultava. Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. A Matilde olhava-me ainda com mais raiva. O Isaac também. O Sandro estava magoado. E eu ali no meio… Tudo, aquilo que tinha tentado evitar tinha-se confirmado: tinha desiludido tudo e todos. Provavelmente depois daquilo que se tinha ocorrido nunca mais me iriam voltar a dirigir-me a palavra e não era para menos. Só queria ir para casa! Só queria que nada daquilo se tivesse sucedido!
- Eu quero ir para casa! – Declarei – não tenho fome!
- Ainda bem, que nenhum de nós tem! – Replicou a Matilde e fomos os três a caminho de casa – E não te esqueças da conversinha que te prometi.
- Sim, não nos vamos esquecer, não é? – Conclui-o o Isaac e lançou um olhar que me feriu.
- Eu vou para casa. A mãe e o pai devem estar preocupados. Voltaram há um mês e já pensam que mandam em nós! – Comentou o Sandro e acabou-se tudo. Ele foi para casa e o Isaac, em conjunto com a Matilde foram entregar-me à minha!
O caminho igualmente ao filme parecia interminável. Apesar de só agora estar a escurecer já eram oito e meia da tarde e eu necessitava de preparar o dia escolar que sucedia a este e descansar para acordar cedo para tomar banho e não chegar atrasada.
Se bem, que se a Matilde não me tivesse feito nenhuma revelação bombástica, nada disto tinha acontecido! Provavelmente tinha-me enrolado com ele e acabaria por “curtir” com ele e isso dar lugar a algo mais sério. A verdade é que quando ele, me tinha prendido ao abdómen dele e eu o sentia a inspirar e a expirar me sentia confortável e até gostava. Sentir o perfume dele, beija-lo… sim, gostara de beijá-lo apenas nas bochechas do que gostara de beijar outro rapaz nos lábios. As suas bochechas apesar de serem carnudas, não eram de todo rechonchudas. Ele não era nada gordo. Para quem tinha um metro e setenta e tal, eu dava-lhe nos máximos 75kg. Trabalhava bem os músculos, o que pudera sentir quando ele me tinha chegado ao seu abdómen. Sim, é este tipo de rapaz que todas as miúdas passam a vida a suspirar e acabam por não conseguir nada com ele. E as da minha turma, pelo que eu vira nos últimos intervalos, eram desse tipo. E eu, com uma oportunidade daquelas, tinha-me limitado a dizer que tinha namorado uma semana com um rapaz que por acaso, não gostava de mim, e como prova já me tinha traído e estava agora com outra e que ainda não tinha esquecido… O que não fazemos para ajudar as amigas! Para mim, que nunca tinha resistido a um rapaz giro, ainda por cima querido e amoroso e maravilhoso e… ciumento! Tinha que me lembrar dos aspectos negativos… e caloroso e atencioso… Vamos lá a travar o meu raciocínio! Se não fosse eu que estivesse a sentir isto ou a pensar isto, dizia que a pessoa que estava a pensar nisto estava apaixonada! Eu não podia, era mau demais! Mas, só me conseguia lembrar de como fiquei quando ele me posou o seu braço direito por cima de mim. Tinha sido uma sensação maravilhosa! E o beijo?! Ui, o beijo!!! Já não penso mais nada! Proibido pensar! Era giro, se tivéssemos uma placa dessas quando estamos a fazer testes! A turma toda corrida a zero valores. Quando dei por mim, já estávamos na minha rua.
- Falta pouco para chegar a casa! – Anunciei. E eles, nem um barulho mínimo que fosse, fizeram. Dobramos a esquina de uma rua qualquer e tínhamos chegado ao meu prédio. – Bem, já chegamos! Quem quiser falar comigo, fale agora ou que se cale para sempre! – Anunciei com um sorriso forçado e um nervoso miudinho à mistura.
- Posso ser eu! – Declarou a Matilde, fazendo sinal ao Isaac para que este nos deixasse sozinhas – Tu beijaste-o? Tu abraçaste-o? Mas, tu não és minha amiga? Tu sabes que gosto dele! E mesmo assim, se não gostasse dele… Tu magoaste-o! Além de gostar dele, ele é meu amigo, é uma pessoa, é um ser! Tu usaste-o e jogaste-o fora! O que o magoa, magoa-me a mim igualmente! Não o faças sofrer, por favor! Por favor! – E desfeche em lágrimas. Eu ainda tentei limpá-las. Mas ela afastou-se – Tu beijaste-o! Como foste capaz de tal coisa? Tu és uma traidora! Traidora! Nunca mais me dirijas a palavra, ouviste?
E deixou-me ali sozinha à espera do Isaac… Eu já me sentira suficientemente mal para falar com a Matilde, quanto mais com o irmão dele? Nesse instante desejei ter uma ponte bem alta para me jogar abaixo. Este dia horrível nunca mais passava, só queria calçar as minhas pantufas ridículas aos coelhinhos cor-de-rosa, adquiridas aqui no inicio de me ter instalado cá, vestir o pijama, lavar os dentes e ir para a cama!
O Isaac lá acabou por aparecer e ao contrário daquilo que eu pensava que ia fazer, não me insultou, apenas me disse que:
- O meu irmão gosta muito de ti, isso não duvides, eu nunca o vi a por o braço por cima de uma rapariga, nem a suplicar-me que o deixasse ficar ao lado de uma rapariga longe de todos os olhares e pedir-me para ir para longe com a Matilde. A sério, não o magoes… eu sei que também gostas dele, mas por alguma razão, foges dele. Porquê? – E eu mantive-me em silêncio – Porquê? Eu preciso de saber! Porquê?
- Não te posso contar… - repliquei-lhe, baixando a cabeça.
- Então, sempre tens alguma razão! Diz-me! Eu não conto a ninguém! Prometo!
- Não te posso contar… - repeti…
- Mas, eu… - continuou ele.
- NÃO TE POSSO CONTAR! – Berrei e em seguida desatei a chorar… - Não te posso contar… - disse, engolindo lágrimas.
- Mas, tu… tu estás a chorar! – Disse-me pasmado – mas, o que poderá ser tão importante assim, para tu não agarrares o amor? Se eu pudesse… - confessou-me.
- Pudesses, o quê? Gostas de alguém? – Perguntei-lhe, limpando as lágrimas.
- Da Matilde. Desde sempre, desde que nos conhecemos na primeira classe, que gosto dela! Comecei a gostar dela, quando ela me emprestou o lápis amarelo, que me faltava para colorir o sol! Lembro-me que nesse dia, fui-lhe colher flores da cor do lápis para lhe agradecer. Ela nunca reparou em mim! Tento fazer com que ela repare mas, ela está demasiado cega pelo meu irmão!
- Pois… - Incentivei.
- Espera lá! A Matilde… - E eu anui com a cabeça. – É ela! Não acredito que ela… Foi ela? – E eu continuei a anuir.

2 comentários:

  1. (Eu ficou muito apreensivo - erro :x)

    AHAHAH TIA IVA xD
    «Proibido pensar !» - gostei *.*

    O ISAAC GOSTA DA MATILDE ?! Fogo , que desilusão :O


    O que é que foi ela Piita ? :| Não percebi!
    «Não acredito que ela… Foi ela?» , foi ela o que ? :|

    ResponderEliminar
  2. oh man, deixas-te em suspense --'
    e com alguns erros :X

    +++

    ResponderEliminar