domingo, 14 de junho de 2009

Uma inglesa no Porto - 4º Capítulo

Depois, das aulas acabarem, combinei encontrar-me com a Matilde, que me iria apresentar ao seu grupo.
Por isso, almocei à pressa, para não chegar atrasada (como boa inglesa, odeio atrasos) e fui a caminho do fórum em que nos tínhamos combinado encontrar. O meu pai ainda me ofereceu a levar-me de automóvel, mas eu recusei. Finalmente, ia ter uma saída de amigas, que já não tinha fazia muito tempo. Íamos às compras, depois íamos ao cinema, rechearmo-nos de pipocas e Coca-Cola (lá se ia a minha dieta) e no fim, jantávamos no Mac Donald’s. Ia ser uma tarde em grande! Ia conhecer o fórum e todas as suas lojas mais fashion!
Quando cheguei lá, dei graças ao meu pai não me ter levado de carro, porque ao que parece, (segundo o meu relógio) atrasaram-se, todos, meia hora. No momento que chegaram, apareceram conjuntamente com ela, e só apenas Isaac e o Sandro. Não havia nem uma colega! Apenas eles os três! Que vergonha, não queria ver nem um, nem o outro. Depois da confusão que tinha feito no intervalo, era normal que também não me quisessem dirigir a palavra. Mas, surpreendente, abeiraram-se os dois de mim e deram-me, cada um, dois beijos doces na minha face. Estivemos a andar por mais de meia hora pelo fórum e entrando nas várias lojas que nos interessavam. Quando verificamos que estava quase na hora de o cinema começar, por isso, abordámo-nos do cinema para comprar pipocas e Coca-Cola, para dividir com os dois, que nem dinheiro traziam. Quando reparei que um dos gémeos já me fixava desde que nos tínhamos encontrado. Então, dei a desculpa de querer ir à casa de banho, antes do cinema e reboquei a Matilde comigo para lá dentro.
- Ouve lá! - Disse-lhe – Como conseguem distinguir um do outro?
- Quem?
- O Sandro e o Isaac!
-Ah! É simples! O Sandro tem três sinais que formam um triângulo no lado esquerdo do pescoço e o Isaac não, o Sandro tem o dedo mindinho da mão direita mais torto e estreito, o Isaac partiu a cabeça duas vezes e tem as duas cicatrizes bem vincadas e o Sandro só tem uma, o Isaac tem o cabelo mais liso que o Sandro, o Sandro…
- Bem, é impressão minha, ou tu já andas há muito tempo a reparar num dos dois?
- Pois… - a Matilde tirou o cabelo da vista e sorriu-me timidamente. Como se fosse um crime gostar de alguém – É assim, tão óbvio? – E eu anui-lhe com a cabeça. Ela baixou a cabeça e continuou – É o Sandro!
É evidente, que depois desta revelação bombástica, fiquei mais um pouco na casa de banho, a falar com ela e acabamos por nos esquecer do pessoal. Posteriormente, de abandonarmos a casa de banho, fomos a caminho da sala onde já estavam os dois repletos de pipocas e de duas Coca-Colas gigantes à espera de nós as duas. Que vergonha! Nem tínhamos escolhido o filme que pretendíamos ver e fui obrigada a ver um filme de terror! Quem me manda deixar a carteira, nas mãos de dois rapazes?
Ao que parece já tinham escolhido quem ficava com quem a reciprocar pipocas e a bebida, os lugares tudo! A Matilde parece ter sido a única de nós as duas de ir ver um filme de terror, numa sala escura (não se vê nada, que arrepiante!) e a não haver senão dois copos para nós os quatro. A sua felicidade parece ter-se evaporado, quando soube que ia ser EU que ia ficar com o Sandro, que ia ser EU que ia partilhar as pipocas com o Sandro, que ia ser EU que ia partilhar a bebida com o Sandro, que ia ser EU que havia de ficar coladinha ao Sandro se tivesse medo…! Ela mandou-me um olhar matador como quem diz “Agora, já sabes da história! Agora, já sabes que ele é MEU!”, mas, manteve-se calada e quando acabaram de dizer as previsões de como ia ser o cinema, olharam ambos para ela, a mesma sorriu forçosamente e seguiu até à sala onde iria decorrer o filme…
O filme era bastante assustador, nunca tinha visto algo tão aterrador. Eu estava sentada na extremidade direita, da última fila da sala com o Sandro e a sala estava o mais cheia possível, por isso, não havia lugares mais próximos de nós, o que fez que o Isaac e a Matilde fossem para a antepenúltima fila na extremidade esquerda da sala. Deu para entender que cada coisa que eles, os dois, decidiam juntos mais a fazia irritar-se. Acho que ela não prestou nenhuma atenção ao filme, pois cada vez que olhava para o lugar deles, ela olhava fixamente para mim e para ele. O olhar ainda era mais aterrador que o filme. Quando dei por mim, estava cheia de medo dela. O Sandro que estava ao meu lado, não parecia dar por nada e jogava a mão ao balde das pipocas constantemente.
Quando, finalmente decidi não ligar ao joguinho dela, comecei a ver finalmente o filme, que já estava a meio. O filme era sobre uma família que vivia assombrada por espíritos de assassino em série, e vê-los a serem degolados, a serem estrangulados ou a serem cortados por uma serra-eléctrica, era tudo uma rotina… Fiquei cada e cada vez mais aterrorizada e quando dei por mim, já tinha dado a mão ao meu parceiro. AHHHHHHHH! Tinha-lhe dado a mão! Bem, não haveria problema, visto que é só um filme, mas a Matilde é bem real! CALMA! CALMAAAAAA! Respirei fundo e tirei, bruscamente, a minha mão de cima da dele e o mesmo olhou para mim, como quem diz “Que se passa ‘tás bem?” e eu fingi estar a ver o filme, enquanto ele olhava para mim fixamente. Não havia dúvidas! Quem tinha estado a olhar para mim anteriormente só podia ser ele. Sem olhar para o balde tirei uma pipoca enquanto ele olhava para mim. Que nervos! O filme nunca mais acabava! Nunca mais matavam os quinze miúdos pequeninos que andava ali de um lado para o outro a choramingar. Mata! MATAAAAA! - Disse mentalmente. Mas, nada aconteceu…
A coisa ia piorando e o pior é que eu pensava que ele me achava piada. Piada entre aspas, estão a ver? Química, não Físico-química! Uma coisa ainda mais explosiva! Bem, acho que já entenderam. O meu primeiro encontro com o Matt tinha sido no cinema, para ver um filme romântico todo lamechas para chorar no princípio ao fim! Não quer dizer que não tivesse corrido bem, pois saímos os dois de lá a “curtir” e dias depois, acabamos por começar a namorar a sério. Não, não podia ser assim… Ela! Tinha que pensar nela! Quando estive naquela sala pensei montões de vezes, o que aconteceria se não tivesse tido aquela conversa com ela… Será que haveria algo de mágico entre mim e os cinemas? Será que era só ilusão? Não, podia ser! Tinha arranjado os meus dois primeiros amigos e a minha primeira amiga e não os ia perder assim, de um minuto para o outro!
Ajeitei o pulôver e esfreguei os olhos do sono. Bem, ele não estava com brincadeiras. Que persistente! Quando dei por mim, tinha adormecido por uns meros segundos e já tinha o braço direito dele a aconchegar-me… No momento que acordei, nem me mexi e continuei imóvel, como se a dormir. Não havia dúvidas! Eu queria e parecia que ele, também não se importava de estar encostadinho a mim. Respirei fundo e ajeitei-me melhor na cadeira… O cheiro do perfume dele, veio-me ao nariz. Hum! Que cheirinho bom! De repente, apeteceu-me abraçá-lo também. Mas, detive-me. Apeteceu-me dar-lhe um beijinho nas bochechas carnudas. E não me detive! Up’s! Ele contemplou-me, sorriu e aproveitou para me chegar mais ao abdómen dele. Agora, estávamos cada vez mais próximos… NÃO! CHEGA! E dei-lhe a desculpa de me estar a sentir mal, para me largar dele e ir reflectir naquilo que fizera, lá para fora…
- Eu vou também! - Disse-me entre dentes, para não incomodar ninguém – Se te sentires mal e estiveres lá sozinha ninguém te pode auxiliar.
- Não, não necessito! Obrigada! – Retribui-lhe e abandonei o cinema.

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