domingo, 9 de outubro de 2011

As Pupilas do Sr. Reitor, Júlio Dinis, Capítulo VI

"Em todas as separações, tem mais amargo quinhão de dores o que fica, que o que vai partir. A este esperam-no novos lugares, novas cenas, novas pessoas; sobretudo o atractivo do desconhecido, que de antemão lhe absorve quase todos os pensamentos. Vai experimentar outra sensações, e à força de distrair os sentidos, é raro que não lhe distraia o coração. Mas ao que fica... lá estão todos os objectos que vê a recordar-lhe as venturas que perdeu; ali as flores que colheram juntos, para as trocar depois; acolá, a árvore a cuja sombra se sentaram; além o ribeiro que arrebatou na corrente as pétalas, desfolhadas um dia, do bem-me-quer fatídico, que os amantes interrogam; o tronco onde se gravaram unidas as iniciais de dois nomes; o canto dos pássaros que tantas vezes escutaram; o ponto da perspectiva, mais procurado pela vista de ambos... Oh! Há bem mais alimentos para as saudades assim! E depois, o que se ausenta vai esperançando nisto mesmo: em que a afeição, que deixa, lhe será fielmente mantida até à volta; que evitarão o esquecimento das promessas feitas tantas as testemunhas que as presenciaram e que, sem cessar, as recordarão; os que ficam antevêem que, longe de tudo que possa falar-lhes nelas, pouco a pouco se varrerão essas promessas da memória do ausente, e, ao dizer o adeus da despedida, um amargo pressentimento que dizem adeus a uma ilusão."

As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis, Capítulo VI


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