sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma inglesa no Porto - 9º Capítulo

Depois da última aula da manhã, encaminhamo-nos as duas, para a loja ver o que se arranjava para a Matilde. Queríamos algo barato, mas com estilo… Então, fomos mecanicamente para a zona de saldos, onde encontrámos uma camisa amarela linda, perfeita e mais que importante, barata! Custava 7.95 euros. Sim, perfeita!
- Segura-a! – Pedi à Matilde, que me observava sem saber por onde escolher – Gostas?
- Não achas um bocado decotada? – Questionou-me, olhando sem jeito para ela – É gira, mas, não estou habituada a usar este tipo de coisas!
- Então, está na hora de evoluíres! – Comentei. – Olha, estes calções e esta gravata, igualmente brancos! Lindo! – Disse-lhe atirando para os braços dela.
- Ainda quero ver o que vai sair daqui! – Observou. Eu sei como é que ela se sentia. Eu não tenho vergonha de admitir, que me sentia uma doida no meio da loja, a arremessar-lhe roupa para os braços. A dona da loja também estava a dar em doida, com a desarrumação que lhe estávamos fazendo na loja. Eram horas de almoço e não lhe desamparávamos a loja. Se não tivesse a certeza que se nos expulsasse do estabelecimento, nós nunca mais regressávamos, acho que a mulher nos tinha indicado a saída! Felizmente, controlou-se e ficou a mirar um grupo de adolescentes doidas com as hormonas aos saltos, que lhe destruía a loja.
- Agarra estes sapatos! – Berrei para a Matilde que estava olhando para os conjuntos de cueca e soutien – Para que é que estás a olhar para isso? Falta de cuecas? – Gozei – Vá, experimenta! Vais ficar linda!
Ela sorriu e foi a caminho dos vestiários para vestir a roupa que lhe tinha indicado. Demorou um bocadinho, mas o resultado foi incrível! Mal, saiu por detrás das cortinas, mostrou como lhe ficava a roupa. Fiquei totalmente embasbacada e disse-lhe:
- Tens que comprar a roupa! Se fosse um rapaz dizia que estás uma brasa! Depois, com a maquilhagem e com aquilo que te vou fazer, vais ficar daqui… - e agarrei-me à minha orelha, sorrindo.
Rapidamente, ela mudou de roupa e fomos pagar.
- 32.95! – Comunicou-nos a lojista.
- 32.95?! Lá se vai a minha mesada! – Resmungou a Matilde, abrindo a sua carteira.
- Vai valer a pena! – Voltei a avisar. E, depois de pagar, ingressamos numa odisseia até casa. – E vê o lado positivo: ainda te sobra sete euros e cinco cêntimos, para o jantar! – Brinquei, enquanto íamos a caminho.
- Para o jantar, ir ao cinema ou para as pipocas e bebida! – Observou. Eu lá no meu interior, concordei com ela… sete euros e cinco cêntimos era e continua a ser insignificante – lá vou ter de ir mexer no meu mealheiro para poder pagar tudo… - observou.
- AHAHAH! O meu é um migalheiro! Só tem migalhas! Atenção, migalhas no sentido de moedas pequenas! – a Matilde riu-se da minha desgraça comigo - Não te esqueças de levá-la na mochila a seguir para vestires depois das aulas! – Adverti-a – Eu levo a maquilhagem!
- Porque é que não o posso levar já vestido?
- Para ser surpresa absoluta! Para isso é que comprámos roupa! Eu gosto de fazer surpresas sempre que saio com rapazes! – Informei-a com um toque de sabedoria.
-Oh! Entendi! – Disse-me com um sorriso nos lábios.
- Quando acabarem as aulas, ponho as tuas coisas no meu cacifo, visto que ainda não arranjaste o teu! Amanhã, ajudo-te a levá-las para casa à hora do almoço. Não te preocupes! Tenho tudo controlado!
- Sabes… tenho estado a pensar… - proferiu, parando a caminho das nossas casas que se encontravam mesmo ao lado uma da outra – Sempre gostei do Sandro, mas só hoje, reparei no Isaac. E estava a pensar… Ah… esquece é uma estupidez! Nem vale a pena dizer…!
- Não! Diz… - Pedi-lhe, fixando a minha mão esquerda no ombro dela e os meus olhos nos olhos da mesma. Esta viu que eu lhe estava pedindo com sinceridade e continuou, soltando um suspiro:
- “ (…) Estava a pensar…” que talvez o amor estivesse mais perto do que aquilo que pensava quer dizer… - e ao ver que eu lhe regalara os olhos numa expressão marota, deu-me um encontrão leve e disse-me “Cala-te!”
- Mas, eu nem sequer falei…
- Oh! Tu entendes-te aquilo que quis dizer! – Continuou.
- Não entendi, não – brinquei indo contra ela.
- Entendes-te, pois! Estive a pensar… Agora como aprendo a andar de saltos altos em algumas horas? Não te esqueças que trouxemos o modelo que escolheste, amarelo de verniz com um laço e de salto cunha!
- Eu ajudo-te! - Prontifiquei-me e visto que nos estávamos a aproximar de casa, despedi-me – Então, até daqui a pouco!
- Até depois do almoço! – Disse a Matilde dirigindo-se para a sua casa.
Mal, enfiei a chave na fechadura, abri a porta, vi que ambos os meus pais me esperavam do outro lado da porta. Era certo que já estava atrasada em relação à hora de almoço e que tinha saído no tempo de castigo, mas ainda havia duas horas de almoço de sobra! Dava mais que tempo para me alimentar…
Mas, em vez das habituais reprimendas, levei com grandes elogios, baseados em eu não ter batido no outro. Se eles soubessem o que me preparava para lhe fazer… Sinceramente, o melhor era ficarem os dois com esta versão da história! E depois de me tirarem do castigo pela minha boa acção, menos vontade tive de lhes contar! A directora fez os meus pais acreditarem que sou um anjo em forma de pessoa… Sinceramente, começo a gostar daquela mulher!
Então, em seguida ao almoço, fui buscar a mochila, à sala. A Matilde ia arrasar! E eu… ia ficar em casa deprimida! Ou então, não!
Olhei para a prateleira de cima da despensa e observei os meus velhos patins e os do meu pai. Era o programa perfeito! Eu e o Sandro a andar de patins, os dois juntos! Os dois pela rua… Será que ele sabe andar de patins? Só saberia se o convidasse para andar depois das aulas.
- Pai, empresta-me os teus patins para andar a seguir das aulas? – Interroguei-lhe, enquanto fazia a mala da tarde à pressa, pois queria ir ter com eles, antes das aulas.
- Para quê? Tu tens os teus! – Respondeu-me o meu pai, ao mesmo tempo que arrumava a cozinha.
- Gostava de convidar um amigo… - Retorqui.
- Um amigo, hã? Quem? – Questionou-me a minha mãe.
- Logo, vêem! Sempre me deixas emprestar, pai? – Perguntei com a mochila às costas, e com a porta de casa entreaberta comigo, metade no prédio, metade em casa.
- Sim! – Autorizou-me o meu pai.
- Boa! Obrigada, mil obrigadas! – Agradeci, depois sair de casa, ao fechar a porta.

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